BOCA MALDITA

20/05/2011 15:56

Dois homens, que não se conheciam, estavam viajando de avião, com destino a uma mesma cidade, em poltronas contíguas.

Lá pelas tantas começaram a conversar. Após as preliminares usuais, um deles perguntou:

- Está indo à serviço ou à passeio, meu amigo?

- Nem um coisa nem outra. É uma "bronca" antiga.

- "Bronca"? 

- Sim, tive uns probleminhas com a lei, no passado... mas não dá nada, não!

- O que você contra a lei?

- Homicídio.

- Vai

 julgamento?

- Sim, mas estou tranqüilo.

- Legítima defesa?

- O meu advogado vai alegar isso, mas, na verdade,  não foi bem isso não. Mas, tudo vai acabar, bem. Afinal, faz tanto tempo que isso aconteceu que o caso já está quase prescrevendo!

- Desculpe-me dizer, mas estou te achando tranqüilo demais. Se fosse comigo, acho que eu estaria morrendo de medo.

- Que nada... Estou tranqüilo porque a maioria destes casos acaba em "pizza".

- Não é bem assim, tem muita gente atrás das grades.

- É gente pobre; neste país só vai preso quem é pobre, o que não é o meu caso.

- Não é bem assim, meu amigo, as coisas estão mudando, tem muito rico preso também.

- Deve ser rico burro. Basta ter bons advogados.

- Não é bem assim, meu amigo, até quem tem bons advogados pode acabar na cadeia.

- Meus advogados são espertos. Se a coisa complicar, eles "compram" o juíz. Todo juíz tem seu preço.

- Será, meu amigo? Tem juíz que não se corrompe...

- Não esquenta, não! Vou sair daquele tribunal pela porta da frente, de cabeça erguida.

Neste ponto a conversa foi interrompida pela voz do comandante da aeronave, pedindo que todos apertassem o cinto, para a aterrissagem.

Já no saguão do aeroporto, como geralmente acontece nestas situações, ele se despediram e desejaram sorte um para o outro, imaginado que nunca mais iriam se ver, mas o destino tinha uma surpresa para eles, pois, logo no dia seguinte, eles se encontraram novamente, lá no tribunal.

Um, na condição de réu.

O outro, na condição de juíz. 

Por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado. Mateus 12.37